PRÉDIO DESABADO EM BISSAU FAZ UM FERIDO LIGEIRO E PREJUÍZOS MATERIAIS

 


O prédio que desmoronou na madrugada desta quinta-feira, 25 de julho de 2024, em Bissau, na Chapa de Bissau, centro da cidade, resultou num ferido ligeiro e prejuízos materiais incalculáveis aos moradores atrás do edifício que caiu.


O edifício, que se encontrava num estado avançado de degradação, já havia dado sinais de perigo quando uma parte caiu em 2019, causando vítimas mortais e feridos graves.


No local onde o prédio desabou, era visível que os estragos causados numas casas atrás do edifício eram enormes.


As vítimas denunciaram que várias vezes lançaram gritos de socorro para que medidas acertadas fossem tomadas, mas não resultaram em nada.


Em entrevista a um dos programas matinais da Rádio Popular para falar do perigo que os dos prédios inacabados representam a vida das pessoas em Bissau e no interior do país, o Bastonário da Ordem dos Arquitetos da Guiné-Bissau, Fernando Jorge Teixeira, falou da negligência das autoridades nacionais e do proprietário do prédio.


Fernando Jorge Teixeira responsabilizou o Estado da Guiné-Bissau e o proprietário do prédio pela perda de vidas humanas e prejuízos materiais


“Os principais responsáveis são o Estado, o proprietário do prédio e o executor da obra. Houve, sim, negligência de todas as partes”, afirmou e disse que as informações que tinha da situação indicavam que quando o prédio deu os primeiros sinais de insegurança, o Ministro das Obras Públicas, Habitação e Urbanismo teria lançado um concurso público a solicitar às empresas aptas para demolir o prédio, mas depois de o dono ter sido encontrado, as Obras Públicas teria demarcado dessa iniciativa e obrigado ao proprietário, ele próprio a fazê-lo.


Segundo o Bastonário da Ordem dos Arquitetos da Guiné-Bissau, o dono teria assumido essa responsabilidade e “fê-lo, com certeza, com os meios que tem”, o que terá levado os trabalhos a durar todo esse tempo.



“Talvez não tenha negligência total, por ter havido iniciativas e atos para concretizar os planos, mas a acontecer o que sucedeu esta madrugada, depois de tantos anos, então entra a palavra negligência como um dos termos mais adequados para descrever essa situação”, criticou.        


Fernando Jorge Teixeira revelou que há muito tempo que a organização vem apelando o seu envolvimento na fiscalização das obras para evitar situações desta natureza.


“Temos exigido que antes de os processos passarem pela Câmara Municipal de Bissau e Obras Públicas, devem ser analisados pela Ordem dos Arquitetos como acontece em África e noutros países do mundo, nomeadamente Cote d’Ivoire, Benin, Senegal, etc. Apenas para apreciar a sua legalidade, os metros quadrados, a primeira verificação e depois emitir um relatório que será anexado ao processo e só então é aprovada para sua execução. A Ordem dos Arquitetos é uma garantia, mesmo que uma entidade não tenha informações técnicas, o parecer e o relatório emitidos pela Ordem dão garantia”, sublinhou.


Apolinária Adelino Mendonça, a proprietária da casa que o prédio destruiu, informou que por volta das 05h da madrugada sentiu barulho e saiu para perceber o que se passava e viu que era o prédio a desabar e voltou para dentro para alertar as crianças que estavam a dormir a saírem da casa, mas não conseguiram por causa da poeira.


“No meio do perigo, esforçamo-nos e graças a Deus conseguimos. Também os vizinhos acordaram”, relatou para de seguida dizer que o evento não fez vítimas mortais, apenas uma criança teve ferimentos ligeiros, em consequência das pedras que penetravam dentro do quarto onde dormia, que prontamente foi socorrida e levada para o Hospital Nacional Simão Mendes.


A proprietária disse que a situação daquele prédio era lamentável e preocupante, porque “ desde 2019 que uma parte desmoronou e fez cinco vítimas mortais, temos feito barulho e lançado gritos de socorro, através das rádios e da televisão, mas nunca houve resposta das autoridades ”.


“Fazendo contas, em setembro do ano em curso, completaria cinco anos que o prédio desmoronou, de maneira que o governo deveria ter tomado o engajamento e demolido o prédio e tanto outros mal construídos e inacabados”, responsabilizou.


“Eu não sinto se temos Estado ou governo. Se tivéssemos, teriam reagido e solucionado os problemas, não esperar tanto tempo para tomar medidas. O mais caricato, depois do sucedido, aparecem aqui ministros para perguntar se alguém morreu. Já fizemos pedidos e lançamos gritos de socorro várias vezes, não houve nenhuma resposta. Aqui serve como caminho de passagem para os moradores do Reino, de Sintra e dos Cupilum de Cima e de Baixo para o mercado de Bandim e se essa situação acontecesse durante o dia, estaríamos neste momento a contabilizar as vítimas mortais, não é normal uma situação de género acontecer num Estado”, lamentou.


Apolinária Adelino Mendonça lembrou que quando aconteceu a mesma situação, naquele prédio, em 2019, o proprietário fugiu e só mais tarde foi encontrado pelas autoridades.


“O cidadão libanês que assumiu o prédio continuou, depois de tudo que se passou, a construir infraestruturas com licença atribuída pelo Estado, sem, no entanto, resolver essa situação. É grave, mas estamos de mãos atadas”, denunciou tristemente.


De acordo com as informações disponíveis, os ministros da Administração Territorial e Poder Local e do Interior e da Ordem Pública e o presidente da Câmara Municipal de Bissau já se deslocaram ao local para se solidarizar com as vítimas.


Durante uma conversa em off, terão assumido o compromisso de pressionar o dono do prédio para indemnizar as vítimas.


O jornal O Democrata tentou uma reação junto à Câmara Municipal de Bissau sem sucesso, mas uma entidade contactada na edilidade assegurou que o presidente ponderava reagir a essa situação, assim que reunisse mais elementos sobre o ocorrido.


Texto: Jornal O Democrata 

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