‎API suspende Braima Camará por violar pacto político. ‎

 


Braima Camará é suspenso pela coligação API-CG após aceitar ser nomeado primeiro-ministro sem consulta. Decisão unânime marca rutura política e reacende tensão pré-eleitoral.

‎A Aliança Patriótica Inclusiva – Cabaz Garandi (API-CG) suspendeu Braima Camará e outros dirigentes por integrarem o atual Governo da iniciativa presidencial sem autorização da coligação.

‎A decisão foi tomada durante a Cimeira Ordinária da API-CG, realizada entre 16 e 20 de agosto, em Bissau. A coligação afirma não ter indicado nenhum dos seus membros para o executivo e considera a nomeação de Braima Camará como primeiro-ministro uma violação do pacto político.

‎Foram também suspensos Fidélis Forbes, Augusto Gomes, Alfredo Malu e outros dirigentes. A API-CG reafirmou o seu compromisso com a coligação PAI–Terra Ranka e exigiu eleições livres e transparentes a 23 de novembro.

‎A coligação condenou ainda a expulsão da RTP África, RDP África e Agência Lusa da Guiné-Bissau, exigindo explicações ao Governo.

‎Foram eleitos os novos órgãos dirigentes da coligação: Baciro Djá como presidente, Fernando Dias da Costa como vice-presidente e Jorge Fernandes como secretário-geral. Nuno Gomes Nabiam foi nomeado presidente de honra da API-CG, sendo elogiado pela sua liderança prudente. A Comissão Técnica passa a ser coordenada por Domingos Malú, com Agostinho da Costa como vice-coordenador e Hotna Cufuk na Dohá como secretário.

‎DW ÁFRICA: A coligação API-Cabaz Garandi, atualmente liderada por Baciro Djá, decidiu expulsar Braima Camará. Quais são os fundamentos desta decisão?

‎Baciro Djá (BD): A Aliança Patriótica Inclusiva (API) Cabaz-Garandi é uma coligação que representa 44% do eleitorado de Bissau, da qual faziam parte Braima Camará — enquanto líder dissidente do MADEM-G15, em litígio com Satu Camará —, Nuno Nabiam (APU-PDGB), Fernando Dias (PRS), Baciro Djá (FREPASNA) e Jorge Fernando (MGD). Trata-se de uma plataforma de entendimento político que se apresenta como uma terceira via, com o objetivo de retirar o país da situação em que se encontra.

‎Este é o princípio que sustenta a estratégia da API. Existe um documento estratégico, um acordo político abrangente, assinado pelas partes envolvidas neste projeto, e uma coligação juridicamente constituída por partidos com personalidade jurídica: FREPASNA, APU-PDGB, PRS e MGD, liderado por Jorge Fernando.

‎É com base nesse entendimento que orientamos a nossa ação. Dispomos de um regimento que rege o funcionamento da coligação, em conformidade com os seus regulamentos internos. Estes princípios foram concebidos para sustentar uma governação estável durante um período de dez anos.

‎Ou seja, trata-se de um pacto político de dez anos, assinado por estas figuras políticas. No entanto, Braima Camará rompeu esse acordo ao aceitar ser nomeado primeiro-ministro, há menos de um ano, contrariando o compromisso assumido. A nomeação foi feita pelo Presidente Umaro Sissoco Embaló.

‎Na sequência, realizou-se uma cimeira ordinária dos líderes da coligação, entre os dias 16 e 26 de agosto. A comissão técnica, alargada, decidiu por unanimidade suspender Braima Camará das funções de primeiro-ministro do Governo de Iniciativa, bem como Fidelis Forbs, enquanto coordenador da comissão técnica, e outros elementos da API que integraram o Governo. Entre eles, Augusto Gomes, secretário da comissão do presídio do órgão, também nomeado ministro — tudo decidido de forma unânime.

‎BD: Houve, de facto, um enredo por parte de Braima Camará. Após regressar de uma viagem ao estrangeiro, nomeadamente a Portugal, afirmou ter sido convocado pelo Presidente da República para uma consulta sobre a formação do Governo. Disse ainda que Nuno Nabiam e Fernando Dias também teriam sido convocados.

‎Contudo, após a reunião, verificou-se que não houve qualquer convocatória oficial do Presidente da República dirigida a Braima Camará, a Nuno Nabiam — que liderava a API — ou a Fernando Dias, líder do PRS. Assim, Braima Camará faltou à verdade perante a coligação, o que motivou a decisão unânime de o suspender.

‎DW África: Considera o comportamento de Braima Camará uma traição à coligação?

‎BD: Sem margem para dúvidas. A nossa coligação assenta em princípios claros, nomeadamente o espírito de solidariedade. Quando Braima Camará foi injustamente afastado da liderança do MADEM-G15, e Fernando Dias do PRS, decidimos criar um dispositivo político que permitisse a sua integração no cenário político guineense.

‎Foi assim que surgiu o acordo político abrangente, que incluía personalidades com forte base sociológica de apoio à API Cabaz-Garandi. A API não é um conjunto de indivíduos, mas sim de ideias, princípios, valores e visão. A sua missão é clara: garantir estabilidade para alcançar o desenvolvimento que o povo da Guiné-Bissau merece.

‎Firmámos um pacto de estabilidade política de dez anos. Nem um ano passou e já houve quem violasse os princípios acordados.


Texto: DW

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